David Almeida firma contrato de R$ 33,5 milhões com empresa ligada a empresário denunciado na operação Maus Caminhos

A gestão do prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), candidato à reeleição, firmou um contrato de R$ 33,5 milhões com a CR Obras da Construção Ltda. Entre os sócios da empresa está Leopoldo Nelson Brozzo Botelho, denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) na operação Maus Caminhos. Ele foi implicado como diretor financeiro da Costa Rica Serviços Técnicos em um esquema de lavagem de dinheiro que envolvia a ocultação de mais de R$ 1 milhão desviado de recursos públicos da saúde.

O contrato, celebrado em 3 de setembro de 2024 e publicado no Diário Oficial em 19 de setembro, visa a prestação de serviços de manutenção predial nas escolas municipais, com um prazo de vigência de 12 meses.

A CR Obras da Construção Ltda. possui como sócios Leopoldo Nelson Brozzo Botelho e Ana Cristina da Silveira Gomes de Freitas, esta última sócia desde 2023. A empresa, ativa desde 2005, tem um capital social de R$ 5,9 milhões.

A participação de Botelho no esquema de corrupção foi revelada em 2017, durante a operação Custo Político. As investigações mostraram que ele recebeu R$ 1.094.878,19 de Priscila Coutinho, disfarçado como um contrato de mútuo gratuito. O MPF contestou a veracidade desse valor e identificou que contratos de mútuo eram usados para ocultar recursos desviados.

Conversas telefônicas interceptadas revelaram que Mouhamad Moustafa, chefe da organização criminosa, negociava valores altos para ocultar a origem ilícita do dinheiro. O MPF destacou que ele foi o maior beneficiado pelos crimes de peculato.

Na ação penal, o MPF solicitou a condenação por lavagem de dinheiro, conforme a Lei 9.613/98, com agravante por ser cometido por organização criminosa.

O Caso

Em 2016, a Operação Maus Caminhos desarticulou um esquema de desvio de recursos públicos por meio de contratos com o governo do estado para a gestão de três unidades de saúde em Manaus, Rio Preto da Eva e Tabatinga, realizadas pelo Instituto Novos Caminhos (INC), uma organização social.

As investigações revelaram que, entre 2014 e 2015, quase R$ 900 milhões foram repassados pelo Fundo Nacional de Saúde (FNS) ao Fundo Estadual de Saúde (FES), dos quais mais de R$ 250 milhões foram destinados ao INC. A apuração indicou um desvio de R$ 50 milhões, incluindo pagamentos a fornecedores sem contraprestação e serviços superfaturados, além de grandes movimentações de recursos em espécie e lavagem de dinheiro pelos líderes da organização criminosa.

O MPF ajuizou pelo menos 40 ações penais na Justiça Federal decorrentes da operação. Desdobramentos como as operações Custo Político e Estado de Emergência mostraram o envolvimento de agentes públicos e políticos de alta cúpula do Executivo estadual, incluindo o ex-governador José Melo, em um esquema de propina que acobertava os desvios liderados pelo médico Mouhamad Moustafa.